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domingo, 9 de junho de 2013

Eu, aqui

Eu, aqui, de novo, no lugar que jurei nunca mais voltar. Eu, aqui, de novo, uma geladeira nova, um fogão novo, um cachorro velho e um lar. Novo, branco e lilás, feito pra mim, eu poderia jurar.  Quem dera as dobras das esquinas, os pontos de ônibus, as lojas, cafeterias e farmácias fossem novos também. Quem dera o meu olhar seletivo selecionasse as visões que a minha memória insiste em lembrar. Meu nariz reconhece os cheiros, os ares, tanto que minha respiração voltou a dar sinais de incompetência. Cada dia faço um novo caminho, na esperança de desbancar velhas lembranças e reconhecer no antigo, o novo que habita em mim. Tomo café da manhã, caminho por aí, desvirtuo a rotina que tinha, crio novas a todo nascer do dia, reflexo da vontade que tenho de fazer com que o meu mundo pertença somente a mim e não mais a nós. Aí, numa gélida noite de sábado, sozinha, com trabalho a fazer e uma geladeira que gela só pra mim eu me reinvento, me encontro e durmo. Santa inocência, enganar a si mesmo quando estamos acordados já é difícil, imagina só quando dormimos, quando estamos à mercê de nós mesmos, do nosso subconsciente e das nossas vontades. O sonho não engana, ele revela. Revela nossas vontades escondidas, guardadas, enterradas e submersas no universo de nós. Acordo e tudo não faz sentido, mais uma vez, pelo menos uma vez por mês.

Um comentário:

  1. "Acordo e tudo não faz sentido, mais uma vez, pelo menos uma vez por mês."

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